"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

A idade da emacipação
















Nascido na Nova Zelândia, onde na juventude terá assimilado a vasta herança pop daquele longínquo território, mas desde há muito emigrado nos states, Dean Wareham deve ser daquelas pessoas com fobia a ver o seu nome impresso sozinho na capa de uma obra. Foi já na pátria de adopção, à frente dos míticos Galaxie 500, que ele próprio se tornou um ícone indie de dimensão maior do que aqueles que o inspiraram. Apesar de significativa, a história da banda foi curta e teve um fim pouco amistoso, o que não desencorajou o seu principal cantor e compositor de tentar nova aventura com uma banda, agora com os Luna, que o mantiveram ocupado durante quase década e meia, até 2005. Com o fim destes, resgatou a esposa Britta Phillips, com a qual tem gravado e actuado em dupla. Pelo meio, os completistas ainda se lembrarão da breve colaboração com Claudia Silver, a coberto do aliás Cagney & Lacee.

Só agora, já com meio século de vida, e depois de digeridos muitos atritos típicos do universo das bandas rock, o nosso Dean se decide por uma obra a solo. Isto se excluirmos um single isolado, já no distante ano de 1992, entre os Galaxie 500 e os Luna. Por conveniência, vamos considerar que esta é uma estreia, por sinal uma estreia em grande estilo. Por "esta" entenda-se Emancipated Hearts, um mini-álbum (ou EP, é como preferirem) de seis temas do mais personalizado que Dean Wareham nos apresentou em muitos anos. Sim, porque apesar de todo o seu charme, os discos de Dean & Britta mais não são do que interessantes variações das duplas promovidas por um Hazlewood ou por um Gainsbourg. Pelo contrário, o novo registo tem todos os traços próprios à personalidade musical do seu autor, por via da interferência de reconhecidas referências, seja a exultação de uma certa languidez, seja a sugestão de um torpor de solidão nocturna, ou até aquele misto de melancolia e beleza espectral que faz dos Galaxie 500 algo muito especial. Desta feita, as influências não são apenas musicais, pois é o próprio Dean que nos confessa que cada um dos temas de Emacipated Hearts partiu do desenvolvimento de uma ideia pilhada a uma obra artística alheia, que pode ser uma música da Incredible String Band, um livro de George Orwell, ou um filme de Rainer Werner Fassbinder. Por exemplo, a obra homónima do realizador alemão deu o mote para a amostra infra, single de avanço já com um par de meses.

[Sonic Cathedral, 2013]

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